Lobo de Rua

em 16 de março de 2016

Autor: Jana P. Bianchi
Gênero: Novela, fantasia
Páginas: 72
Editora: Publicação independente


[...] “Tito finalmente se decidiu.  Iria em defesa do filhote. O primeiro que conhecera da raça: o pobre de um filhote de lobisomem vira-latas. Um lobo de rua.”  [...]



Lobo de Rua é uma novela curta, grossa e cáustica que se passa em São Paulo. Uma fantasia urbana, que deixa marcas de violência. Não por seu conteúdo, mas pelo retrato de Raul, garoto de rua, que vem se sentindo doente. Uma doença esquisita que tem lhe sangrado e quebrado os ossos. Uma vez por mês. Na Lua Cheia.

Raul está em mais uma crise de sua estranha doença, quando Tito, um gringo italiano mais brasileiro do que eu ou você, surge disposto a ajudar o pobre Raul a lidar com sua nova condição de existência.

O enredo se desenrola com Tito explicando a Raul o que é a maldição lupina e como sobreviver a ela. Raul, que sempre sobrevivera pelas ruas de São Paulo, não sabe ler e nunca frequentou uma escola, portanto, não tem conhecimentos básicos para entender as explicações de Tito, que passa a desdobrar para explicar tudo com a maior simplicidade possível.


Tanto Raul quanto Tito são bem delineados, bem construídos e dá para criar empatia por eles. Pelo menos eu tive. Me vi torcendo por Raul. Sou coração mole, e seria incrível acompanhar sua jornada de superação, de garoto maltratado e ignorante, a um super lobo justiceiro! Bom, eu pensei que seria assim porque sou otimista e iludida. Mas iludida do que otimista, presumo.

Achei o livro triste, com uma mensagem sem esperança.  Logo no prefácio somos  avisados que o livro não é um romance melado de lobos. Mas também não esperei que fosse terminar daquela maneira. Nhunf.

Existe uma coisa nesse livro que me agradou muitíssimo. A capacidade da escritora em criar cenas imersivas. Algumas passagens do livro são quase como cenas de filme ou uma pintura hiper realista. Não estou falando difícil para parecer chic. É a verdade. Existem duas passagens que me chamara atenção.

Na primeira, Raul e Tito estão em um ônibus, a caminho de um “lugar seguro para a transformação”. É nesse momento que Raul começa a perceber alguns dos “poderes” que vem junto com a maldição. A segunda se passa já na galeria, com a dupla transitando livre pela mente um do outro. Foi quase uma poesia. E eu chorei.

O texto tem bom ritmo, prende a atenção pelo clima de suspense, mas carece de uma revisão para a próxima edição: às vezes a linguagem destoa um pouco do restante da narrativa, e temos alguns erros ortográficos ou redundâncias.

No geral, achei uma ótima abertura para o universo que promete ser o verdadeiro cenário por trás de o Lobo de Rua, afinal, somos apresentados à Minotauro e sua fabulosa Galeria Creta, onde todos os desejos são realizados.  E à misteriosa cigana Soraia, outra personagem bem marcante.


Leitura recomendada para quem deseja uma história de lobos com pitadas cruéis de realidade. 

Até a próxima folks!

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