Conto - Reunião de Pais

em 8 de agosto de 2016


Tudo que eu queria era estar em outro lugar. Era dia da reunião de pais, não estou preocupado com as minhas notas que normalmente ficam na média. O problema é que quem vem é minha mãe.


Normalmente, é meu pai quem comparecia, mas hoje ele tinha um investidor importante no banco. Infelizmente, ele resolveu falar sobre isso bem na frente da minha mãe. E obviamente, ela se ofereceu na hora para ir.  Seus olhos brilharam de animação, já que ela nunca tinha ido a uma reunião antes.
Foi o início do meu pesadelo.


Não que ela seja lunática. Ela só... é gentil e cativante de um jeito sobrenatural. Isso porque ela é uma Deusa.


Sim, minha mãe é uma Deusa. Não, não me refiro à beleza. Estou falado de divindade mesmo. Até hoje, não sei como ela foi se casar com um funcionário de banco comum como meu pai.


Imagino que garotos normais se orgulhem de ter uma Deusa como mãe. Principalmente, depois dos filmes do Percy Jackson, todos fantasiam isso.


Talvez eu também fantasiasse, se minha mãe não fosse uma Deusa da Caçada Selvagem e da Morte.


Nunca posso levar ninguém em casa porque não sei quando ela vai aparecer. Ás vezes, ela some por meses e do nada, aparece sorrindo pingando água para todo lado com a roupa cheia de lodo, como se tivesse saído de um lago infernal. O pior é que ela age como quem só tivesse saído para ir na padaria há cinco minutos, quando na verdade, estava solta pelo mundo caçando e punindo almas errantes por meses.


Também acontece dela estar em casa e surgirem “visitas”. Espíritos de todos os tipos: encapuzados, animais, monstros, almas perdidas.... Alguém sempre vem reportar coisas de outros planos.


Como se não bastasse, minha mãe não precisa comer ou dormir. Quando não precisa “trabalhar” ela resolve ficar em casa e bancar mãe mortal. Limpa a casa toda vinte vezes seguidas e tenta ver tudo que passa na tv sobre como uma mulher moderna e mãe deve ser.


Não me leve a mal, eu a amo muito. Só acho que ela não deveria se manifestar direto das profundezas lá na minha escola.


Imagino ela “teleportando” vestida de preto e pingando lodo e água lamacenta nos pés da diretora. Ah meu deus! Estou suando frio.


Foi só pensar que ela apareceu.  Não estava pingando lodo, entrou pela porta vestida como uma mãe “normal”. Mesmo assim todos estão se virando para olhar ela passar.


Esqueci-me de dizer, ela é linda... e tem quase 1,98 de altura. Mulheres normais não tem esta altura, nem este físico de atleta.


Ela me vê e vem direto até mim. Ouço os rumores a minha volta, se perguntando quem era a mulher de cabelos castanhos e se era uma artista.


Quero sumir no chão. Eu devia ter um poder para algo assim, mas nem isso eu herdei. Sou só um humano normal. Não sei se gostaria de ser igual a minha mãe também. Não quero marcar um encontro e pingar lodo no cinema ou em qualquer outro lugar.


Ela me beija no rosto e com um sorriso me pede para conduzi-la à sala de aula. Mal a vejo fechar a porta atrás de si, e meus amigos vêm correndo me perguntar sobre ela. Argh!!!


Sim é minha mãe.  Não, não sou adotado! Desculpem não ser lindo. Não, ela não fica em casa, ela sempre viaja a trabalho. Não, ela não é uma modelo internacional.


Depois de quase uma hora, ela sai e me chama para irmos embora. Espero que meus colegas esqueçam que a viram e desistam de tentar ir até minha casa em algumas semanas. Embora eu saiba que isso é meio improvável.


Ela me diz que está orgulhosa de mim, mas que tenho que melhorar em matemática e que adorou falar com as outras mães.


Graças a Deus tudo acabou. Espero que nunca mais isto se repita. Com certeza, ela vai embarcar para pegar almas no Nicarágua e não vou precisar mentir para ninguém ir lá pra casa.


Então, minha mãe me diz que resolveu que vai entrar para o conselho da escola.

Nãããããããõooooo!!!!!!!!!!
Acho que falei cedo demais. Agora sim que vai começar meu pesadelo.


E esse foi um conto de Josy Santos!

Me aventurando no mundo das letrinhas há cerca de um ano, incentivada pela Dany Fernandez.
Publiquei três contos em duas coletâneas desde o ano passado e aos poucos vamos indo cada vez mais.
O conto acima foi escrito para uma oficina colaborativa (ótima!) do Eric Novelo (Exorcismos, amores e uma dose de blues). Eu e a Dany participamos e vamos postar por aqui alguns destes textos.
Espero que gostem da leitura ou não e comentem e deixem sua opinião!
Abraços ;)


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